sábado, 30 de janeiro de 2016

Phil Anselmo: Mais uma besteira?


A polêmica da semana, da qual alguns debateram coerentemente, outros usaram apenas para ventilar seu ódio desmedido e outros para pegar uma carona e aparecer nas mídias sociais, foi o episódio da saudação nazi/wp do PHIL ANSELMO no Dimebash.

Há o lado positivo e o lado negativo disso tudo.

O lado positivo é trazer á tona o racismo no meio metal, que é composto, antes de tudo, por pessoas, como em qualquer meio social, e reflete o que rola na sociedade em geral, seja cá, seja lá.

O lado negativo é que, ao invés de permitir um aprofundamento da questão, e avançar uma reflexão saudável, a maioria opta por usar o citado cantor e sua banda mais conhecida, como bode expiatório de seu ódio contido.

Já li declarações de pessoas dizendo que nunca mais ouvirão PANTERA e jogarão sua coleção no lixo, entre outras coisas, como se a pessoa concordasse com tudo que os integrantes fizeram até o famigerado dia da saudação nazi/wp e de repente, depois dela, discorda de tudo, e quer apagar o seu próprio passado.

Por favor, um mínimo de coerência. Separar a pessoa da arte objetivada, é o básico do bom senso. O histórico do cara não é dos melhores. Já sabemos o quão doentio e trágico é o passado dele, de overdoses de heroína, declarações idiotas, final da banda porque os caras não conseguiram chutar sua bunda e seguir com outro vocalista, quando ele se afundou de vez, com analgésicos e outras drogas.

O narcisismo de alguns músicos é autodestrutivo, e é isso que vejo em PHIL ANSELMO. O cara gosta de chamar a atenção, e se coloca em situações conflitantes, que no final só prejudicam a ele mesmo.

O episódio da saudação nazi é a coisa mais contraditória que eu já vi dele, e olha que tem cada pérola por aí, que é de dar medo.

Vamos ao ponto: No dia em questão, ele estava usando uma camiseta que é uma montagem do logo e da capa de um álbum respeitadíssimo, de uma banda pouco conhecida pelos metaleiros, mas muito importante no meio punk, e quer queiram ou não, muito influente para o thrash metal. Trata-se do álbum “Fight Back” da banda Discharge.



Quem conhece o álbum sabe que nas letras, há versos como os seguintes.

“Anarchy's your solution now"
“Why I'm preaching anarchy
I'm fighting for the freedom
Fighting for the rights
For the likes of you and me”

Agora pare e pense: Como, em sã consciência um nazi/white power, estaria usando uma camiseta com essas referências e fazendo uma saudação, ainda por cima?

É tão bizarro quanto alguém enaltecer o Bolsonaro usando uma camiseta do Che Guevara.

Uma coisa, é fã brasileiro que não fala inglês. Outra coisa é ele, PHIL ANSELMO usando essa camiseta. É óbvio que ele sabe do que as letras falam, e é óbvio que anarquismo é antagônico ao racismo, nazismo e outras condutas.

Como dar crédito para uma bizarrice dessas?

Outro ponto, é esse povo das bandas dando declarações, fazendo vídeos, etc.

Na minha humilde opinião, acho um tanto de hipocrisia e oportunismo, isso tudo. Quero ver até onde vai esse engajamento. Está difícil de engolir isso aí.

Cadê esses caras, falando do Metallica, quando houve o episódio do James Hetfield “caçador”?

- Independente da foto fake sobre o urso, ele é membro da Associação nacional de Rifles dos EUA e isso já rendeu problemas para ele no festival Glastonbury. Veja matéria no site do "O Globo". -



Ou será que matar pode, desde que sejam outras espécies, e por puro prazer narcísico, mas fazer referências ao ódio racial da própria espécie é que não pode? Será que somos tão egocêntricos á esse nível?

E em termos de Brasil?

Quantos metaleiros, inclusive de banda, não queriam separar o nordeste do restante do país, por conta dos resultados eleitorais?

Quantos metaleiros do Brasil, inclusive de bandas, clamam pelo assassinato do Lula, Dilma? –Preciso esclarecer que não estou defendendo político nenhum? –

Quantos metaleiros acharam bem feito os assassinatos em Osasco, - que jamais foram esclarecidos á fundo -, só porque eram pobres?

Quantos metaleiros não acham que “deveriam jogar uma bomba na favela para acabar com uma raça de gente vagabunda, bandida, marginal”?

Esse ódio pode?

Isso não é Fascismo também?               

E o preconceito com brasileiros, - sim, bandas brasileiras já relataram casos de preconceito, um tanto velado, mas ele estava lá -, quando foram à Europa?

Então, é isso. Cansei de ver tanta hipocrisia e superficialidade nas declarações e comentários. 

Precisava desabafar, porque me incomodou demais, não só por ser fã da banda e dos trabalhos do cara. Por isso sim, mas também, e principalmente, porque não tenho nada á perder, e ficar assistindo esse circo de blá-blá-blá, que não dá em nada, que só alimenta ódio e dá vazão a mais besteiras e oportunismos não me bastava.

Quem sabe, utopicamente, isso sirva de reflexão para uma cena melhor.

Um puta abraço!

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