quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Saúde Emocional na Quarentena

Saúde Emocional na Quarentena 

Estamos todos envolvidos em uma situação nova, cheia de incertezas, e em certa medida, de risco à saúde, senão para nós diretamente, para pessoas que amamos e que se encontram nos grupos de risco. 

Não bastasse isso, temos um adiamento forçado de projetos, onde as prioridades mudam, e as sensações de frustração e impotência aparecem com maior intensidade e frequência em nosso cotidiano. 

 Contexto

 Embora a situação geral seja a mesma para todos, cada família está organizada de forma diferente, com indivíduos diferentes, e tem que lidar com desdobramentos da quarentena de formas diferentes. 

Por exemplo, se seus pais/responsáveis são médicos, enfermeiros, policiais, ou trabalham em outros setores essenciais do comércio e serviços, ou ainda, se seus pais perderam o emprego no momento da pandemia, sua rotina pode estar bem diferente daqueles cujos pais estão trabalhando em “work from home”, ou em férias, recesso, enfim, ficam em casa com os filhos, e com a remuneração assegurada. 

Mas e aí, isso faz com que seja mais justo ou menos justo, o sofrimento emocional de alguém? 

Não. Não há meritocracia do sofrimento, e a saúde emocional deve ser cuidada por todos nós. Existe “fórmula mágica ou receita” que funcione pra cuidar das emoções de todo mundo? Não. Cada pessoa sente e pensa de forma única e individual, portanto, o que funciona para uma pessoa, pode não ter o mesmo efeito em outra.

 E agora, como lidar com isso tudo que estou pensando e sentindo e que está me incomodando? 

Pare, identifique, reconheça as sensações físicas, o que você está pensando e o que está sentindo. Dê nome a esses tipos de sensações, sentimentos e pensamentos (exemplo: mãos suadas ou secas, coração acelerado ou em ritmo normal, pensamento em coisas agradáveis ou desagradáveis, sentimentos de tranquilidade ou de medo). 

 Pode parecer óbvio, e é, mas faz toda a diferença, saber com o que se está lidando. Seria mais ou menos como acender a luz do quarto para identificar visualmente o que está fazendo um barulho incômodo. Quando identificamos se o barulho vem de um grilo que entrou no quarto, ou de um aparelho que esquecemos ligado, por exemplo, podemos decidir qual atitude vai resolver o problema de forma mais eficaz. 

Dependendo da intensidade dessas sensações físicas, desses sentimentos e pensamentos, podemos agir em busca de um equilíbrio emocional de formas diferentes e até complementares. Por exemplo, se o incômodo é tolerável, podemos refletir e identificar a fonte daquele mal estar, pensando em nossa rotina diária e identificando eventos que estimulam essas sensações ruins. Nesses casos, uma vez identificadas as fontes, o próximo passo é substituir esses eventos por outros que nos tragam de volta a sensação de bem estar. Em casos em que a intensidade é maior, o mais saudável é buscar atendimento profissional. Em se tratando de período de quarentena, o atendimento presencial está, por enquanto, fora de cogitação, mas existe o atendimento online e inclusive gratuito. 

No final do texto está um link para quem desejar se inscrever para receber esse atendimento. 

Informações

 Informações são importantes, mas o excesso delas leva á confusão e eleva o nível de ansiedade. Temos a necessidade de controle, ou da sensação de ter as coisas sob controle, seguindo rotinas e padrões, que proporcionam certa previsibilidade ao cotidiano. 

Quando surge uma situação totalmente nova, que nos tira da rotina, e que nos deixa sem saber o que está acontecendo, a primeira coisa que fazemos é buscar informações. Porém, quando a situação é complexa, e quando não há ainda uma resposta satisfatória, tendemos a continuar buscando mais e mais informações. 

Overdose de informações sobre um assunto, como o corona vírus, vindas de fontes diferentes, com enfoques diferentes e às vezes conflitantes, principalmente na interpretação dos dados, acabam criando uma nova rotina, onde o caos e a confusão tornam-se o padrão. Quando consumimos exaustivamente conteúdos sobre determinado assunto, mas não encontramos um conjunto de informações satisfatórias para que nos sintamos seguros e no controle da situação, acabamos usando aqueles dados que consumimos como “quebra-galho”, e baseamo-nos em nosso “achômetro” para decidir como lidar com aquilo que nos tira da zona de conforto. 

Por exemplo, temos vivido um conflito entre a forma de tratar o controle da pandemia adotada pelo Presidente da República e a forma adotada pelos governadores e prefeitos. O resultado é que a população, sem informações suficientes e com dados conflitantes, divide-se entre quem prefere acreditar na ciência e os que preferem acreditar no discurso pautado na economia. 

De toda forma, essa atitude paliativa não resolve nosso conflito e a ansiedade prevalece, ainda que levemente atenuada. Além do mais, a situação é dinâmica. Os principais responsáveis em lidar com a pandemia (cientistas, médicos, governantes, etc.) também estão aprendendo enquanto lidam com ela. É por isso, por exemplo, que antes não era aconselhado a se usar máscaras de pano, e agora, já está sendo obrigatório em muitos lugares. 

O Dr. Drauzio Varella tem um vídeo sobre isso, cujo link deixarei no final do texto também.

 É importante lembrar que o medo e a ansiedade são absolutamente esperados no contexto em que estamos vivendo, e fazem parte do nosso repertório de sobrevivência. O que precisa de cuidados é o excesso, e o que deve ser cultivado é a saúde, física e mental, por meio de exercícios, leitura de bons livros, conversas, filmes, alimentação, entre outros. 

O que eu controlo agora? 

Não existe não fazer. Existe fazer outra coisa melhor. 

A regra é: substituir o consumo de informações que acentuam a ansiedade por outra atividade mais saudável. Em muitos casos, sair das mídias sociais, desligar o noticiário e ver um filme, estudar um assunto que você goste, conversar com alguém que lhe transmita segurança, passar um tempo com seu pet, enfim, trocar algo insalubre por algo saudável, funciona e muito. 

O que farei nas próximas 2 horas? 

Metas de curto prazo, pré-estabelecido e de fácil cumprimento, como ler um capítulo de um livro, ou assistir um episódio de uma série, ouvir um álbum pelas próximas 2 horas, por exemplo, nos ajudam a lidar com tudo isso de forma mais saudável, dando mais oportunidades para que as sensações de controle, de rotina e de previsibilidade estejam mais evidentes em nosso cotidiano. 

Quanto tempo vai durar? Vai passar? 

Olhe para os lados. Países como a Coréia do Sul e a China já controlaram a situação e estão em fase de recuperação. Em breve será a nossa vez. 

Por enquanto, o exercício é de paciência, por isso deixo como final, a oração da serenidade, muito usada até hoje nas salas de reuniões dos Alcoólicos Anônimos, que, para os que não acreditam em Deus, ainda assim, pode ser usada como reflexão e meditação diária. 

“Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, Coragem para modificar aquelas que podemos, e Sabedoria para distinguir umas das outras.”

 Façamos A Paz, Façamos O Bem! 

Links 

Live com o Neurocientista André Souza hoje, 17/04 sobre o que acontece com nosso cérebro durante o isolamento. https://www.youtube.com/watch?v=9yXmdjDg4Wc 

Vídeo do Dr. Dráuzio Varella sobre a característica dinâmica da epidemia https://youtu.be/9loHh2xjSRw 

Psicólogos solidários – Cadastro para atendimento online gratuito por profissionais neste período de pandemia https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScMLBgOj9BS-U2A21Xx-IqgjlQeRpEJJKsVwK6-We--oCo53g/viewform